Os 28 anos do assassinato de Daniella Perez
Por Xerxes X.
Segunda-feira, 28 de dezembro de 1992. O Brasil assistia mais um capítulo da novela De Corpo E Alma, da autora Glória Perez, sem saber que acordaria no dia seguinte com um enredo ainda mais inacreditável e que a autora nem em seu insight mais criativo poderia imaginar escrever. Naquela noite o ator Guilherme de Pádua com a ajuda de sua então esposa, Paula Nogueira Thomaz, assassinou Daniella Perez, filha da autora. Guilherme interpretava o possessivo Bira e Daniella a doce Yasmin no folhetim.
O assassino Guilherme de Pádua Thomaz, nasceu em Belo Horizonte em 02 de novembro de 1969 e é conhecido hoje não por qualquer trabalho artístico que tenha realizado, aliás, mesmo antes de se tornar um criminoso, era dotado de uma performance medíocre como ator. Teve uma participação na novela Mico Preto e já havia participado de produções homo eróticas em cinema e teatro underground. Estava em seu segundo papel na teledramaturgia e segundo colegas de trabalho era evidente uma ambição exacerbada. Naquele momento era casado com Paula Nogueira Thomaz, hoje Paula Nogueira Peixoto, que na época estava grávida de cinco meses e que já sinalizava um ciúme e inveja doentios, pois Guilherme e Daniella viviam um par romântico na ficção.
Na tarde daquele dia os dois gravaram a cena do fim do romance de Yasmin e Bira. Conforme testemunhas Daniella estava incomodada durante todo o dia, pois Guilherme havia entregue inúmeros bilhetes à atriz, o que reforçou as evidências de que era assediada pelo ator, algo comprovado pelas camareiras do estúdio. Por coincidência, naquelas semanas seu personagem teve participações reduzidas. O que deixou Guilherme nervoso, pois acreditava que por influência da atriz, sua mãe, a autora da novela, estaria tirando espaço de seu personagem. Após a gravação da cena de rompimento de Yasmin e Bira, Guilherme de Pádua teve uma crise de choro, voltando a importunar Daniella, que diante de suas investidas demonstrava grande nervosismo.
Ao fim da tarde, Guilherme deixou os estúdios da Tycoon, na Barra da Tijuca, onde era gravada a novela e seguiu até a Avenida Atlântica em Copacabana, onde morava e buscou Paula. Com lençol e um travesseiro o casal de assassinos voltou aos estúdios onde Daniella seguia gravando. Paula escondeu-se no banco de trás do carro coberta com o lençol e Guilherme retornou ao estúdio para concluir suas cenas naquele dia.
Às 21h as gravações foram concluídas e no estacionamento ambos os atores pararam para tirar fotografias com fãs. Guilherme então seguiu em seu Santana e Daniella em seu Escort. O motorista que levava as crianças que haviam feito as fotos com os atores momentos antes viu quando Guilherme parou em um acostamento que ficava ao lado do posto de gasolina escolhido por Daniella para abastecer seu carro, o que posteriormente foi confirmado pelos frentistas do mesmo posto. Ao seguir, Daniella teve seu carro fechado pelo ator. Os dois desceram e sem possibilidade de defesa, Daniella levou um soco no rosto tão forte de Guilherme que imediatamente ficou desacordada e foi colocada no banco de trás do Santana eu neste momento era dirigido por Paula enquanto Guilherme seguia com o Escort de Daniella até uma rua deserta da Barra da Tijuca onde ficava um terreno baldio.
Neste local, não satisfeitos com a já brutal agressão física, ambos apunhalaram Daniella com 18 estocadas de objeto perfuro cortante que mais tarde foi identificado pela perícia como uma tesoura. Os ferimentos foram tão violentos que atingiram o pulmão, o coração e o pescoço da moça.
Enquanto isso ocorria, o advogado Hugo da Silveira que passava pelo local, viu os dois carros parados naquele local, achou estranho e anotou as placas. Viu no Santana o casal e ao chegar em casa chamou a polícia que ao chegar no local encontrou apenas o Escort com os documentos em nome de Raul Gazolla, marido de Daniella. Enquanto um dos policiais seguiu para a casa de Raul o outro ao se esquivar a fim de proteger-se naquele local perigoso se resguarda atrás de uma árvore onde tropeça no corpo de Daniella.
Quando a mãe, o esposo e toda a imprensa já estavam na delegacia, Guilherme e Paula chegam para consolar Glória e Raul, que ainda lhe agradece por ser “um bom amigo”.
Mas a farsa dura pouco e logo Guilherme passa a ser o principal suspeito diante das provas que já havia se adiantado em alterar as placas do Santana. Isso eliminou a alegação de sua defesa em crime passional e comprovou a premeditação do crime.
No dia seguinte já em posse da polícia, Guilherme negou o crime, mas diante de tantas evidências confessou. Mais tarde a polícia teve acesso à um telefonema de Guilherme alegando “segurar tudo sozinho” e a polícia passou a desconfiar da participação de Paula, que chegou a confessar o crime, mas depois negou. Ambos foram definitivamente presos no dia 31 de dezembro de 1992.
O crime tirou o brilho do impeachment do presidente Fernando Collor, ocorrido naquele dia 29 de dezembro. O país ficou chocado com o crime brutal que abreviou a vida da atriz que já era considerada a nova “namoradinha do Brasil”. A luta de sua mãe então começou e deu resultado quando conseguiu mais de um milhão de assinaturas resultando na alteração da Lei dos Crimes Hediondos e a partir disto o homicídio qualificado passou a ser incluso nessa lei, não permitindo pagamento de fianças e a imposição de maior tempo de pena. Isso só foi derrubado em 2006, quando o STF considerou inconstitucional.
O casal de criminosos se divorciou ainda na prisão. Guilherme mudou a versão do crime responsabilizando também Paula. Mas ambos saíram da cadeia antes cumprindo apenas sete anos da pena gerando grande revolta popular.
Atualmente Guilherme, como grande parte dos criminosos que se “arrependem”, converteu-se ao Evangelho e hoje é pastor em Minas, casou-se duas vezes depois de sua primeira esposa. Paula, como já informado mudou de nome e é casada vivendo uma vida confortável em um bairro nobre do Rio de Janeiro. Porém ambos estão para sempre marcados na memória histórica do Brasil como assassinos e embora sejam considerados réus primários hoje, nunca terão outro adjetivo. Já Daniella, que hoje teria cinquenta anos, será lembrada como a talentosa atriz, a excelente bailarina e a eterna e doce Yasmin, que eternizada pela música Wishing On A Star, do trio The Cover Girls, deve estar dançando em algum lugar das estrelas.
Glória Perez continuou escrevendo o folhetim mesmo após a morte de Daniella. Uma triste coincidência é que a atriz chegou a gravar as cenas que seriam o reveillón de 1993, onde na vida real já estava morta. A personagem Yasmin foi para o exterior dançar, enquanto Bira sumiu da trama.
Por Xerxes X.
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